Cabem, antes de tudo, algumas considerações em relação ao que será posto. Todos os comentários não vinculam nenhum dos criadores, membros ou administradores desse site; as experiências porventura referidas são parte de vivência pessoal ou de observações em loco; tudo o que for escrito realmente acontece em maior ou menor grau e considerando-se os extremos (pode ser muito pior ou muito melhor); procurarei dar mais ênfase ao candidato civil; de forma alguma pretendo esgotar o assunto, o que poderá ser feito pelas futuras observações dos colegas; esse texto não serve para motivar ou desmotivar ninguém, é meramente informativo.
Ao final, acredito, terei contribuído para sanar algumas dúvidas gerais e talvez outras específicas acerca da vida militar, ajudando os candidatos a transformar seus sonhos em objetivos, já que conhecerão um pouco mais sobre o mundo em que querem submergir.
Um curso militar
O CFO da EsFCEx tem peculiaridades tanto para o mundo civil quanto para o militar. Devido ao curto espaço temporal (mais ou menos oito meses) tudo é feito com muita celeridade. Durante esse tempo devemos aprender os regulamentos específicos, desenvolver atividade de pesquisa, trabalhos interdisciplinares, escalas de serviço, ordem unida, atividade física, acampamento(s), instruções mil do interesse do EB, etc.
Nas primeiras duas semanas, em regra, estaremos em um semi-internato com folga nos finais de semana. Depois dessas semanas, aqueles que tiverem residência fora do quartel poderão ir para casa ao final do expediente de aula; os outros poderão dormir nos alojamentos que serão fornecidos para os alunos na própria Escola.
O binômio constitucional Disciplina-Hierarquia, nesse período, é levado ao extremo. Fatos que num ambiente normal de Organização Militar seriam relevados, no CFO podem ser razões de repreensões e até mesmo de punições administrativas.
Nos cursos militares são estreitados os laços de companheirismo e amizade entre os alunos. A interdependência provocada marca a turma formada, caracteriza sua essência. O que conseguirmos no curso fica para sempre. Quando alguém de Contabilidade, servindo em Manaus, tiver uma dúvida para sanar, ligará para seu companheiro de especialidade no Rio de Janeiro, e assim vai…
O que não podemos deixar de observar é o caráter científico do CFO. Não seremos formados combatentes, outras Escolas e Cursos fazem isso, estaremos entrando para suprir a necessidade técnica da Força. Muitas pessoas talvez pensem que entrarão para tropas de elite e tomarão brevês de franco-atiradores, Montanha, Guerra na Selva, COMANF, PARASAR, etc. ESQUEÇAM ISSO!!! Salvo raras exceções estaremos sendo formados para lutar contra documentos (ressalvando, de certo modo, a área de saúde).
Mas… como tudo tem ao menos dois lados, existem grupamentos especiais formados por técnicos na área de tecnologia (olha aí o pessoal de informática) que realizam missões em áreas super inóspitas. Montam acampamentos de transmissão e recepção de sinais em quaisquer pontos do Brasil, muitas vezes em operações conjuntas com as outras Forças. Não falarei sobre isso.
Acampamento
Acredito ser a melhor parte de um curso militar. Quando estaremos em contato direto com as possibilidades de combate; para a maioria o mais próximo que chegarão, em sua carreira militar, de uma missão real. Quanto a esse item direi só para ficarem tranquilos, principalmente às mulheres, pois todo o ambiente de campo é controlado e monitorado o tempo todo por excelentes instrutores.
Não estragarei as surpresas. Mas, vejam só, as imagens que vemos nos vídeos de acampamento das turmas não refletem o todo do exercício.
Transferência
Esse tema já foi tratado muitas vezes nesse site. Há uma legislação que dispõe sobre o assunto. Em resumo, o Oficial pode ser transferido após dois anos na localidade por interesse particular ou por necessidade de serviço, mas entendam todas as formas de transferência como de interesse da administração. Pois não adianta um guerreiro de magistério de Biologia querer ser movimentado para o Xingú sob o pretexto de ensinar aos índios ou morar perto de sua avó que é curandeira.
Remuneração
Um Subtenente (Suboficial) certa vez disse que ser militar não é um trabalho, é mais que um serviço, é um sacerdócio.
É com esse pensamento que devemos trilhar o caminho que se descortina. Quem está pensando em entrar nesse mundo para ganhar dinheiro vai se dar mal. Tenho amigos que são da área de contabilidade, um desses, só para usar como exemplo o mais humilde, faz a prestação de contas de seis micro-empresas (seria melhor dizer nano) e tem uma renda mensal de R$4.000,00; pareceres jurídicos, num escritório mediano, são cobrados, em razão da causa, pelo valor de R$10.000,00; concursos para enfermeiros com nível superior são remunerados, no interior dos Estados, entre R$7.000,00 e R$12.000,00; a Petrobrás paga R$8.000,00 mais vantagens mil para a área de informática… vamos ficar por aqui.
Já conheci muita gente que pediu baixa logo depois que deu o tempo previsto por não terem se adaptado à vida militar. É verdade. Há pessoas que desistem no curso de formação. É fácil até para quem é do mundo civil notar isso, pois já está virando notícia (quando não são censuradas) a grande evasão dos militares das FA. Tem muita gente que entra no militarismo apenas para passar a chuva e logo vão embora. É por causa do descontentamento que muita gente começa uma vida de punições disciplinares.
NÃO VENHAM POR CAUSA DE DINHEIRO!
E a vida
A vida militar é cheia de percalços. Depende muito de fatores externos: o Cmt da Organização, o chefe da seção, os colegas de trabalho, a conjuntura nacional… para exemplificar esse último, estamos passando por um período muito longo sem aumento e não há sinalização do governo com relação a que aconteça.
Chega-se mesmo a dividir os comandos em eras. O comando do coronel Fulano que era comando; o brigadeiro Beltrano foi um tirano; o almirante Sicrano pôs as coisas no lugar. Querendo ou não isso influencia diretamente no serviço que você irá tirar, como funcionará sua seção, qual será o limite de sua autonomia como profissional. É dureza…
Mas como tudo tem dois lados… Há pessoas muito felizes com a vida que levam, eu, por exemplo, sou uma delas. A Força que sirvo já patrocinou muitos cursos para mim, minha chefia é excelente, minha seção tem uma autonomia única em minha OM. Tenho colegas que já viajaram o mundo, até da Antártida me mandaram fotos. Conhecer todo o Brasil fazendo cursos e ainda sendo pago para isso não é nada mal, imaginem conhecer o exterior…
Devemos contar muito com a fortuna no militarismo, pois como eu disse no começo pode ser muito melhor ou muito pior do que tudo que eu contei.
Sei que o texto não ficou muito bom, e pode não ter preenchido nada do vazio de conhecimento que alguns poderiam ter, mas me proponho a responder as perguntas que surgirem com a ajuda dos meus colegas desse fórum que já são militares.
Confiemos em Deus.
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